quinta-feira, 10 de junho de 2010

BAIRRO DAS MAHOTAS
Só hoje é que acordei...
Nem vos sei explicar bem como tem sido o meu processo de adaptação, porque eu própria ainda não entendi, tem sido tanta coisa para assimilar que o meu filtro ainda não funciona com muito brio e portanto o coração está um pouco mais apertado.
Ora bem, farei por descrever um pouco o "alarido" que para aqui vai. Não haja dúvida que estas irmãs tem aqui um projecto fantástico, uma estrutura bem pensada e muito boa gente para dar a cara a tudo isto. Este projecto que se direciona fundamentalmente ás mulheres, aposta na formação a todos os níveis como resposta não só á envolvência/necessidades das pessoas de Mahotas, bem como de Moçambique em geral e porque não ao mundo inteiro.
Aparentemente, poderíamos dizer que o bairro de Mahotas não era mais que um amontoado ou de blocos de cimento ou de palhotas, para os menos afortunados, inundado de uma areia avermelhada, um cheiro a queimada(que é utilizado ou para queimar o lixo ou cozinhar), normalmente as pessoas que se vêm são crianças e mulheres, em geral as que mais trabalham e que asseguram a família, vivem essencialmente do pequeno comércio, mas no fundo acabam todas por vender a mesma coisa. As mulheres aqui andam todas com as capulanas, seja como saia, vestido, na cabeça, para transportar crianças, para ajudar no transporte da água, etc, uma infinidade criativa no uso destas. Os homens trabalham menos e muitas vezes encontram-se simplesmente sentados á frente das suas "casas", não foi o caso de hoje em que fomos, no âmbito do programa microcrédito que as irmãs têm aqui, ver como se faziam esteiras e por acaso era um homem que as fazia. Mas é uma sociedade que para além de ser muito machista é ainda em algumas coisas bastante primária.
Aparentemente, "á vista desarmada" o bairro de Mahotas viveria apenas desta descrição mas isso seria uma descrição muito pobre desta comunidade. Esta gente apesar de todas as carências são um exemplo e isso não é coisa fácil de admitir, foi uma lição de humildade, uma lição de que a pobreza não se vê apenas pelos "meticais" que se tem mas como podem mesmo existir outros vários tipos de pobreza, pobrezas/estados em que nós vivemos e experiementamos diaramente e nem sempre nos apercebemos disso. Aqui aprende-se mais do que se dá, aprende-se a ser simples, a falar só quando é pertinente e sempre com o coração. Aprende-se, que mesmo não tendo muito, se pode fazer imenso. Damo-nos conta da urgência destas aprendizagens mesmo quando elas já nos são familiares fora destes contextos e temos a possibilidade de conviver com os "melhores professores". Aqui não há como fugir desses ensinamentos porque estes, estão estampados na cara das pessoas e em tudo o que os envolve.
Já tive a primeira reunião com as irmãs acerca do trabalho que irei realizar por aqui, vou dar algum apoio aos adolescentes que desde novos encontram-se bastante vulneráveis, ajudar na criação de um "espaço" criativo e ajudar na informática e na biblioteca que aqui foi criada por uma das voluntárias. Depois conto-vos mais pormenorizadamente de como irão funcionar estas actividades pois eu própria ainda não sei bem.
Nestes dias que são situações ainda de integração, tenho andado a observar o trabalho que aqui está a ser feito, apresentar-me, dar-me a conhecer, embora as vezes tenha dificuldade mas vocês já me conhecem, e sobretudo tentar conhecer um pouco as pessoas com quem vou trabalhar, embora isso seja um trabalho complicado e que requer muita simplicidade.
Bem por hoje deixo-me de descrições e desabafos e fica a promessa de observações de cariz menos sóbrio e mais alegre e olhem que aqui não é dificil de encontrar isso. O jantar que tive hoje é prova disso, mas bem.... fica para uma próxima.

Um grande beijinho da vossa,
Térésinha(mana)

3 comentários:

  1. Teresinha até agora estou arrepiada com o teu email.. espero que aproveites ao maximo essa experiencia incrivel=) n tenho palavras.. so que, como ja sei ha muito tempo, é um privilegio ter uma amiga como tu, com o grande coração que tu tens!
    Bem deixemo-nos de lamechices e um grande beijinho e muita força ai!!=)
    Joaninha

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  2. Minha querida das Fuentes...ao escrever o teu nome agora mesmo pensei que nunca ele fez tanto sentido: Fontes de entrega, Fontes de humor, Fontes de sensibilidade, Fontes de luz..tudo o que tu como Fonte(s) transbordas no teu dia-a-dia e agora te empenhas em deixar aqui registado! Um bem-haja, minha companheira e que sigas sempre o teu caminho, de braço dado com Ele! Nós cá estaremos para te "ler" e te dar alento, sempre que dele precises. Escreve sempre que possas! Te aguardo em Agosto :) Um grande beijo!

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  3. Tetuxi gostei muito do teu texto, muito arrepiante e muito bem escrito. Um enorme beijo cheio de saudades, tu e paz fazem muita falta ca. Bom trabalho e continua, tenho a certeza que tas a fazer um trabalho maravilhoso. Continua a escrever amiga. beijinho enrikas!

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