Piratas da savana.
O cenário envolvente que premeia muito pelos contrastes, mantêm-se. Apenas torna-se urgente que a postura seja diferente. Através do sentido de humor e da loucura, as coisas, tomam uma proporção e forma destinta, o que de alguma forma facilita a assimilação de toda esta experiência e das emoções inerentes.
Sexta-feira é dia de "Casa da Alegria" e como já vos referi, de alegria tem muito pouco. As irmãs de Calcutá estão onde mais ninguém quer estar e percebe-se perfeitamente o porquê. Basicamente o campo envolvente é uma grande lixeira que a nível de dimensões assemelha-se a uma cidade e onde lá, por incrível que pareça, sobrevivem pessoas. Este projecto centra-se especificamente nos indivíduos que foram esquecidos pelo mundo e recordados pela insaciável morte. Os moribundos, os intocáveis, os abandonados, a quem lhes é dada uma oportunidade de viver ou de morrer dignamente. É por aquele local de passagem, que passam pequenos grandes novos velhos homens mulheres, normalmente com SIDA e condenados com "o morrer hoje ou amanhã". Não existem cursos ou manuais de instrução que nos ajudem a entender e a lidar com situações como estas, nem o século XXI o consegue explicar, nem eu, pessoalmente sou capaz de o fazer. Resta-nos apenas dar uso aos nossos órgãos e membros, aos nossos braços, mãos, olhos, ouvidos e sobretudo ao nosso coração que é o meio, o termo, a razão pela qual vale a pena viver.
Neste fim de semana, sábado, embarcamos para a "Ponta do Ouro", a 4 horas de Maputo. As 9h estávamos apanhar o barco para Katembe onde seguidamente iríamos apanhar o que nós suponhamos ser um 4x4, mas mais uma vez engano nosso, iríamos no nosso tão querido e já outrora referido chapa. Á partida pareceu-nos um pouco suspeito, mais adiante, comprovamos que valeu todo o sacrifício que vos passo a descrever: neste transporte só podem estar por volta de 12 pessoas mas normalmente estão mais de 20. Conseguem imaginar, algum calor, 2 "molungas" no meio de moçambicanos, todos enlatados, apertados, com tubos de metal nos pés, malas que se multiplicam, pernas que estão constantemente a bater nos ferros do banco da frente, tudo isto, através de caminhos sinuosos e bastante acidentados em que se partilha qualquer coisinha de suspensões e amortecedores. Resultado: ora cabeça no tecto, ora cabeça na frente, ora cabeça atrás, ora negras nas pernas, ora chiclete nas calças, só para o lado é que não se anda pois vamos bem amortecidos pelo excesso de pessoas. Bem, mas sem tudo isto não haveria uma viagem incrível pelo meio da savana, entre muitos risos e paisagens, cheiros e cores, serenidade e loucura, uma viagem pelo verdadeiro Moçambique que ainda não havia conhecido. Inesquecível. E tudo isto culminou com a chegada...uma praia que se situa numa espécie de aldeia ligeiramente selvagem e na fronteira com a África do Sul por quem é claramente explorada. Aqui não existe mais que um mercado, um complexo de aldeamentos e uns poucos cafés/restaurantes por sinal caros. Soube-me muito bem sair deste Maputo já demasiado ocidentalizado e conhecer um pouco mais deste país inacreditável carregado de cenários contrastantes.
Aqui vos deixo um pouco mais desta aventura, que todos os dias confirma a minha alegria por ter vindo, mesmo que seja por pouco tempo e mesmo que muitas vezes tenha de recorrer ao mencionado sentido de humor para que me seja possível entender determinadas situações inimagináveis.
Um grande beijinho com muitas saudades
Mána Téresinha
Minha querida amiga Teresinha, com os teus textos transporta-nos para o cenário em que estás, à tua maneira, de forma sensível e intensa. És uma pérola.
ResponderEliminarteresinha nao tenho tempo de ler tudo portanto deixo so um beijo grande pas duas! tao de rir as fotos, alta prainha sim senhor :)! e as ilustracoes tb tao mt fixes!!!!!
ResponderEliminarbeijo grande
Tetuxi bons textos!!! gosto muito de os ler, amei ver as fotografias, tou a morrer de saudades! tao optimas as minhas amigas. continua a dar noticias. beijinho enorme enrikinhas
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